quinta-feira, 3 de novembro de 2011

As vozes e o discurso de gênero na propaganda da Hope - Por Mara Emília

Na semana anterior, e mais intensamente nesta, a Secretaria Especial de Políticas Para Mulheres, esteve em pauta na mídia numa discussão que se coloca enviesada, muito desfavorável ao que poderia ser o momento atual da sociedade brasileira.

Sim, porque mesmo com os altos índices de violência contra a mulher, com a inferioridade salarial nas relações trabalhistas, com as triplas jornadas, com subjulgo dentro das hierarquias familiares, e tantas outras questões, mesmo assim elegemos uma mulher para o posto mais alto da nação.

É situada neste momento que encontramos uma propaganda da Hope com seu teor bobo, descontextualizado e machista/conservador. A Secretaria de Políticas para Mulheres argüi os responsáveis e por isso ainda ouvimos ecoar na mídia, desavergonhadamente, posicionamentos condenando a secretária pela defesa da integridade das mulheres. Não é de espantar que a defesa da propaganda aconteça utilizando o argumento(mais machista que a propaganda) raso de comparações tipo fisicas das supostas envolvidas, parece-nos que os que querem fazer o debate vislumbram apenas as mulheres como objetos de apreciação.

Tanto no enviesamento da leitura da ação tomada pela SPM, quanto na personalização da questão e das pessoas envolvidas, raramente vemos o nome da agencia que concebeu a idéia, ou mesmo da lingerie. Então, também neste momento, esperamos que mulheres de esquerda, independente de siglas partidárias, multipliquem ações e vozes no combate que não pode mais ser encarado como menor, tampouco como pessoal, e menos ainda como perfumaria: espera-se produção de notas, artigos, resenhas, fotos, vídeos, pronunciamentos, ações e gestos que nos coloque lado a lado com quem faz a defesa das desigualdades.

Mas justamente por isso, porque se espera esse tipo de comportamento, e ele muitas vezes não acontece - como se ninguém fosse perceber - é que propagandas assim ganham defesa e adesões dos mais variados sujeitos, uma voz que sem timidez e reflexão alguma diz que quem quer barrar o comercial lutou contra a ditadura para vetar o comercial da moça linda e loira, ou mesmo que a ministra das mulheres é totalitária por não deixar a moça desfilar suas pernas vestidas ou não.
Não percebemos e a cada dia menos pessoas percebem. Assim como defender uma mulher que apanha do marido parece ser coisa menor, ops, parece ser "coisa de casal", de "marido e mulher",.... mas não é! Assim como aumenta o caso de mulheres vitimas de violência doméstica, violência sexual contra meninas, exploração sexual e de trabalho de menores... 

Se uma mulher quer tirar a roupa quando bate o carro e seduzir o marido é problema dela. Se uma lingerie fará diferença e evita o conflito entre maridos e mulheres, fechemos pois as delegacias de mulheres e subsidiemos o produto; Se uma das mais bem sucedidas top models do mundo aceita  encenar este lixo de concepção, ok! Mas porque a grande mídia quer por o confronto da Secretaria, mais especificamente da Ministra, com a top? A representação foi feita ao comercial da empresa Hope, e aos publicitários da Giovanni e Draftfcb porque o seu produto é ruim, é errado pois fazem insinuações sexistas, estereotipadas e que por isso ofendem mais as mulheres, sim porque a propaganda também é ofensiva aos homens.

Tomamos então as mulheres, sozinhas de ambos os lados, para ocupar o ringue.

Se a piada/propaganda é grosseira e sem graça é problema do criador/humorista, mas se essas manifestações são públicas temos que intervir.... Mulheres emancipadas devem ajudar outras a minimamente se reconhecer como capaz de produzir o seu próprio discurso, sua própria voz, e com isso anular em casa, nas ruas e na sociedade de modo geral o discurso que está por trás da modelo seminua, que é o discurso opressor de que a mulher é um objeto, esse discurso evolui numa psicadela para o mulher gosta de apanhar, mulher tem que dirigir fogão, mulher só entende de cozinha e muitos outros até o discurso de quem acha que as negras gostavam de ser violentadas pelos senhores de engenho numa leitura torta de Casa Grande e Senzala.

Porque será que no Comercial a Gisele aparece dizendo que bateu o carro do marido? Porque mulheres não sabem dirigir, oras!!!! Ops, fogão elas sabem!!!Porque será que o carro não é dela ? Porque ela não trabalha e fica em casa o dia inteiro! E porque ela não trabalha ? Porque é incapaz e assim deverá servir ao marido na cama, que é a única coisa para qual ela serve!

Tá tudo ali no comercial com a linda Gisele! Sim, ela é linda! E é loira, e nem parece com tantas mulheres que são oprimidas pela questão de gênero. Mas a opressão de gênero tem várias faces:  modelos, misses e manequins oprimidas por uma ditadura da beleza estereotipada e cruel que lhes obriga hábitos quase medievais em troca de altos salários, que lhes permite oprimir quem na luta de classe lhe é inferior... Mas este é outro assunto...

Agora, vamos propor para o dia das crianças um comercial com uma menininha que poderia até ser minha filha(3anos)pedindo um presente pro pai vestida com roupa normal e ele negando, depois a mesma menininha apareceria seminua pedindo e o pai daria...Deu pra sacar que não é só uma piada?

Já circula na internet uma piada que não tem graça nenhuma sobre mulheres colocarem fotos em seus avatares, dos seios despidos para apoiar a luta contra o câncer de mama. Não é engraçado, vejam as estatísticas de depressão em mulheres mastectomizadas. Me pergunto se hoje seria piada queimar o sutiã da hope em praça pública?

Ainda estou esperando que mais mulheres, vereadoras, deputadas, secretárias, presidentes de conselhos, associações, fóruns e lideranças se pronunciem sobre o assunto. É preciso que mulheres entrem na política numa condição libertária, que apontem e pontuem as opressões, e ocupem espaços e deixem/proporcionem que outras mulheres também ocupem cada vez mais espaços.... É preciso que mais mulheres entrem na luta... mais mulheres se envolvam que bom seria se as mulheres do PT encabeçassem isso...que fossem solidárias a ministra e a representação apresentada. 

Nesta questão este é o jeito certo, e onde marcar o x com dignidade!
Mara Emília é militante do PT e da Articulação de Esquerda