terça-feira, 24 de abril de 2012

POPULAÇÃO GRITA: FORA MARCONI! E O PT?




Abril de 2006. A turbulência política toma conta do cenário nacional. O PT, partido do presidente da República, é bombardeado diuturnamente desde o dia 06 de junho de 2005, graças à criação do fenômeno midiático do mensalão.  Esquema de financiamento paralelo de campanha do PT e base aliada, foi travestido de pagamento mensal a parlamentares para votarem com o governo. A popularidade do presidente encontrava-se em recuperação, mas ainda estava desgastada. As primeiras pesquisas para a eleição presidencial davam o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) em primeiro lugar, mas um presidente Lula em ascensão.

Internamente, o partido não se encontrava em melhores condições. Tendo candidatura própria ao governo desde 1982, cogitava-se não lançar candidatura própria naquele ano. Parte do partido defendia a construção de uma “Frente Alternativa”, construída com partidos da base de Lula que fossem preteridos pela falsa polarização PMDB/PSDB, parte defendia o apoio ao PMDB já em primeiro turno.

Neste cenário conturbado, o PT de Goiânia realizou uma Jornada de Formação, feita em quatro fins de semana seguidos, objetivando mobilizar a militância, ainda atordoada, para uma campanha que não seria fácil. Participou desta jornada como palestrante o companheiro Hamilton Pereira, o Pedro Tierra, hoje secretário de cultura do Distrito Federal.

A certa altura, um dos participantes da Jornada fez uma pergunta muito interessante: o que acontecerá com o PT se ficar consolidado seu afastamento dos movimentos sociais? O companheiro Hamilton não titubeou: respondeu que, sem os movimentos sociais, o PT acaba. Não há porque termos um partido dos trabalhadores que não tem nenhum contato com as reivindicações mais básicas do povo. Será um outro partido.

Abril de 2012. A turbulência política novamente toma conta do cenário nacional. Porém, quem está no centro dela agora é o PSDB, principal instrumento de organização da direita nacional nos dias de hoje. Desde a prisão do “empresário do ramo de jogos” Carlinhos Cachoeira, em 29 de fevereiro, após deflagração da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, as ligações de diversos políticos com o bicheiro instalaram um certo pânico na classe política. Um dos presos pela operação, Wladimir Garcêz, considerado o número 2 da organização criminosa, era pessoa de fácil trânsito no Palácio das Esmeraldas, do governador Marconi Perillo. Este, por sua vez, tem vários de seus auxiliares diretos envolvidos no esquema criminoso. A quantidade de agentes do governo estadual próximos ao esquema de contravenção e negócios públicos é estarrecedora e perigosa, um verdadeiro estado paralelo.

Nesta conjuntura, espontaneamente, surgiu nas redes sociais o movimento FORA MARCONI. Independente de se considerar a reivindicação expressa no nome do movimento como juridicamente válida – não se teriam elementos suficientes para pedir o impeachment do governador – é algo inédito no estado de Goiás. Pouco depois de lançado, o evento já contava com mais de 5.000 adeptos, tendo atingido a impressionante marca de 15.000 pessoas que confirmaram presença no evento.

Sem nenhum movimento organizado ou partido político que fosse hegemônico, o I Fora Marconi, ocorrido no dia 14 de abril, levou cerca de 5.000 pessoas às ruas. O sentimento anti-hegemonismo era muito forte. Todos os que tentaram partidarizar o movimento de forma convencional se deram mal. Um filiado ao PSOL resolveu declarar isso em cima de um carro de som e foi vaiado por 3 minutos ininterruptos. Os demais que faziam o batido – e repetido à exaustão – discurso político eram deixados falando sozinho. Aplaudidos eram os que se referiam ao objeto do movimento – críticas ao governo estadual.

O segundo Fora Marconi literalmente TOMOU o Movimento Nacional de Combate à Corrupção, marcado para o mesmo dia. Fazendo-se de desentendido, um membro da juventude do PSDB foi impedido de falar pelos manifestantes. 99% dos gritos de guerra e cartazes do evento se dirigiam a pedir FORA MARCONI. Muitas manifestações contrárias ao comportamento da imprensa, que menosprezara e falseara os números do movimento anterior. Um número maior de manifestantes - entre 7.000 e 10.000 pessoas – participaram desta vez. Não houve como ignorar.

Em nenhuma das duas oportunidades houve manifestação de direções do PT sobre o fenômeno. O silêncio do partido é ensurdecedor enquanto instituição.O que está colocado pelos partidos de oposição ao governo federal - tanto de direita quanto pelo esquerdismo - é a necessidade de acrescentar à Cachoeira de denúncias algumas estrelinhas vermelhas. Nas redes sociais , tenta-se inviabilizar a atuação do PT,  estabelecendo  paralelos ora com a gestão petista do GDF, ora com a figura do Dep. Rubens Otoni e, mais recentemente, com as gestões petistas de Antônio Gomide e  Paulo Garcia.

Não há possibilidade de se impor uma direção partidária ao movimento FORA MARCONI. Isso é claro. Contudo, ignorar esta manifestação inédita de uma parcela da população – majoritariamente composta por jovens estudantes – é, conforme a definição do companheiro Hamilton Pereira – matar o PT. Além disso, quanto menos houver a participação de petistas de forma organizada nestes atos, mais teremos o reforço do discurso anti-partido, que é sedutor e encontro terreno fértil nas ausências de respostas da direção do PT. Afinal, até hoje não houve nenhum grupo desorganizado que assumiu poder em lugar algum.

Que o PT reassuma sua condição de porta-voz e dirigente dos movimentos sociais, antes que o caminho para a morte seja cada vez mais irreversível.

Eduardo Nunes Loureiro
PT - GO