Abril de 2006. A turbulência política toma conta do
cenário nacional. O PT, partido do presidente da República, é bombardeado
diuturnamente desde o dia 06 de junho de 2005, graças à criação do fenômeno
midiático do mensalão. Esquema de financiamento paralelo de campanha
do PT e base aliada, foi travestido de pagamento mensal a parlamentares para
votarem com o governo. A popularidade do presidente encontrava-se em
recuperação, mas ainda estava desgastada. As primeiras pesquisas para a eleição
presidencial davam o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) em primeiro lugar, mas um
presidente Lula em ascensão.
Internamente, o partido não se encontrava em
melhores condições. Tendo candidatura própria ao governo desde 1982,
cogitava-se não lançar candidatura própria naquele ano. Parte do partido
defendia a construção de uma “Frente Alternativa”, construída com partidos da
base de Lula que fossem preteridos pela falsa polarização PMDB/PSDB, parte
defendia o apoio ao PMDB já em primeiro turno.
Neste cenário conturbado, o PT de Goiânia realizou
uma Jornada de Formação, feita em quatro fins de semana seguidos, objetivando
mobilizar a militância, ainda atordoada, para uma campanha que não seria fácil.
Participou desta jornada como palestrante o companheiro Hamilton Pereira, o
Pedro Tierra, hoje secretário de cultura do Distrito Federal.
A certa altura, um dos participantes da Jornada fez
uma pergunta muito interessante: o que acontecerá com o PT se ficar consolidado
seu afastamento dos movimentos sociais? O companheiro Hamilton não titubeou:
respondeu que, sem os movimentos sociais, o PT acaba. Não há porque termos um
partido dos trabalhadores que não tem nenhum contato com as reivindicações mais
básicas do povo. Será um outro partido.
Abril de 2012. A turbulência política novamente
toma conta do cenário nacional. Porém, quem está no centro dela agora é o PSDB,
principal instrumento de organização da direita nacional nos dias de hoje.
Desde a prisão do “empresário do ramo de jogos” Carlinhos Cachoeira, em 29 de
fevereiro, após deflagração da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, as
ligações de diversos políticos com o bicheiro instalaram um certo pânico na
classe política. Um dos presos pela operação, Wladimir Garcêz, considerado o
número 2 da organização criminosa, era pessoa de fácil trânsito no Palácio das
Esmeraldas, do governador Marconi Perillo. Este, por sua vez, tem vários de
seus auxiliares diretos envolvidos no esquema criminoso. A quantidade de
agentes do governo estadual próximos ao esquema de contravenção e negócios
públicos é estarrecedora e perigosa, um verdadeiro estado paralelo.
Nesta conjuntura, espontaneamente, surgiu nas redes
sociais o movimento FORA MARCONI. Independente de se considerar a reivindicação
expressa no nome do movimento como juridicamente válida – não se teriam
elementos suficientes para pedir o impeachment do governador – é algo inédito
no estado de Goiás. Pouco depois de lançado, o evento já contava com mais de
5.000 adeptos, tendo atingido a impressionante marca de 15.000 pessoas que
confirmaram presença no evento.
Sem nenhum movimento organizado ou partido político
que fosse hegemônico, o I Fora Marconi, ocorrido no dia 14 de abril, levou
cerca de 5.000 pessoas às ruas. O sentimento anti-hegemonismo era muito forte.
Todos os que tentaram partidarizar o movimento de forma convencional se deram
mal. Um filiado ao PSOL resolveu declarar isso em cima de um carro de som e foi
vaiado por 3 minutos ininterruptos. Os demais que faziam o batido – e repetido
à exaustão – discurso político eram deixados falando sozinho. Aplaudidos eram
os que se referiam ao objeto do movimento – críticas ao governo estadual.
O segundo Fora Marconi literalmente TOMOU o
Movimento Nacional de Combate à Corrupção, marcado para o mesmo dia. Fazendo-se
de desentendido, um membro da juventude do PSDB foi impedido de falar pelos
manifestantes. 99% dos gritos de guerra e cartazes do evento se dirigiam a
pedir FORA MARCONI. Muitas manifestações contrárias ao comportamento da
imprensa, que menosprezara e falseara os números do movimento anterior. Um
número maior de manifestantes - entre 7.000 e 10.000 pessoas – participaram
desta vez. Não houve como ignorar.
Em
nenhuma das duas oportunidades houve
manifestação de direções do PT sobre o fenômeno. O silêncio do partido é
ensurdecedor enquanto instituição.O que está colocado pelos partidos de
oposição ao governo federal - tanto de direita quanto pelo esquerdismo -
é a necessidade de acrescentar à Cachoeira de denúncias algumas
estrelinhas vermelhas. Nas redes sociais , tenta-se inviabilizar a
atuação do PT, estabelecendo paralelos ora com a gestão petista do
GDF, ora com a figura do Dep. Rubens Otoni e, mais recentemente, com as
gestões petistas de Antônio Gomide e Paulo Garcia.
Não há possibilidade de se impor uma direção
partidária ao movimento FORA MARCONI. Isso é claro. Contudo, ignorar esta
manifestação inédita de uma parcela da população – majoritariamente composta
por jovens estudantes – é, conforme a definição do companheiro Hamilton Pereira
– matar o PT. Além disso, quanto menos houver a participação de petistas de
forma organizada nestes atos, mais teremos o reforço do discurso anti-partido,
que é sedutor e encontro terreno fértil nas ausências de respostas da
direção do PT. Afinal, até hoje não houve nenhum grupo desorganizado que
assumiu poder em lugar algum.
Que o PT reassuma sua condição de porta-voz e
dirigente dos movimentos sociais, antes que o caminho para a morte seja cada
vez mais irreversível.
Eduardo
Nunes Loureiro
PT - GO