A atual conjuntura política do Brasil, mais particularmente do estado de Goiás, faz com que aumente a quantidade de pessoas que declaram que votarão nulo nestas eleições. Argumentam que uma grande quantidade de votos nulos daria um "recado aos políticos".
Existe um grande erro neste tipo de pensamento. Nem todo político é igual. Contudo, partindo do princípio que fossem: isso significaria, conforme manifestação daqueles que defendem abrir mão do direito ao sufrágio universal, que políticos não têm nenhum caráter. Ora, quem não tem caráter não se constrange. Então, qual seria a utilidade de uma grande massa de votos inválidos?
Se iludir com a "força" do voto nulo parte do princípio que todos os que agem desta maneira estão unidos em torno de um ideal comum, o que é falso. Há os que votam nulo como arma política, outros que votam porque acham que "político é tudo igual" e diversos outros motivos. É praticamente impossível que o simples ato de se abster de sua escolha seja uma forma de pressão.
Hoje, temos um sistema eleitoral e político estabelecido. Qualquer mudança passa, primeiro, pela mobilização. Governos só funcionam sobre pressão. Se não houver a pressão popular e a ameaça de não serem reeleitos ou elegerem seus sucessores, funcionarão outros tipos de pressão, de outros setores sociais, geralmente detentores do poder econômico.
O voto nulo, ao contrário, é um fator de anti-mobilização. Primeiro, pela já citada falta de pauta comum. Segundo, porque, paradoxalmente, apenas fortalece o status quo. Ao contrário do que é amplamente divulgado, uma grande quantidade de votos anulados não cancela a eleição - a não ser em caso de fraude, como votos em candidatos invalidados pela Justiça que ultrapassem 50%, por exemplo. Isso significa que os votos nulos favorecem aqueles que estão mais organizados. Numa sociedade despolitizada e desmobilizada, estes são os que possuem mais dinheiro. Quem tem dinheiro, provavelmente o ganhou nas condições existentes hoje e não tem interesse em mudar.
Uma alternativa a votar nulo na atual conjuntura seria escolher uma candidatura para apoiar e, caso ela seja vitoriosa, não desmontar a mobilização para elegê-la, e se tornar seu maior fiscal, sendo inclusive seu algoz, em caso de não se cumprir com o prometido. Por mais que a desilusão com a política seja recorrente, não nos enganemos: não há saída fora dela. E a saída dentro dela passa pela mobilização crescente e permanente. Do contrário, seremos sempre massa de manobra, acentuadas por medidas desmobilizadoras como o voto nulo, ainda que sejam sinceras.
Eduardo Nunes Loureiro
Dirigente nacional da Articulação de Esquerda, militante do PT-GO